Os rebeldes líbios conseguiram nesta terça-feira invadir e tomar o complexo residencial de Muamar Kadafi em Trípoli, onde não foram encontrados nem o ditador, nem seus parentes. As forças de Kadafi, que segue com paradeiro desconhecido, praticamente não ofereceram resistência no complexo de Bab al-Aziziyah. Uma bandeira rebelde foi hasteada, e muitos comemoram o avanço com tiros - inclusive de munição antiaérea - nas ruas da capital.
Um dos rebeldes disse à rede americana CNN que um prédio histórico dentro de Bab al-Aziziyah foi queimado e que a batalha está encerrada no QG. Um repórter da al-Jazeera foi ferido nos combates no complexo, que é saqueado pelos moradores de Trípoli.
Armas, mobília e até um carrinho de golfe de Kadafi foram levados. O Pentágono diz que as armas químicas da Líbia estão sob estrita vigilância americana em Trípoli.
Apesar do avanço rebelde, a comunidade internacional ainda é reticente em declarar o fim do regime. O Departamento de Estado americano diz que precisa de uma "declaração confiável" de Kadafi para fazê-lo.
A busca por Kadafi continua. O jogador de xadrez russo Kirsan Ilyumzhinov, que estava ao lado do ditador em uma de suas últimas aparições públicas, disse ter falado por telefone com Kadafi, que segundo ele está bem e em algum lugar de Trípoli.
Segundo Ibrahim Dabbashi, enviado da Líbia à ONU que apoia os rebeldes, o país será "libertado" em 72 horas. Ex-vice embaixador que continuou trabalhando na missão nas Nações Unidas depois de mudar de lado, ele confirmou que o complexo de Kadafi está totalmente nas mãos dos opositores.
A correspondente da rede CNN na capital líbia, Sara Sidner, disse mais cedo que o aumento dos confrontos já fazia moradores fugirem em massa, num número que não tinha sido visto desde a intensificação dos combates.
Antes da tomada do QG do ditador, o ministro da Informação do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Shammam, afirmou que os rebeldes controlavam cerca de 85% da área de Trípoli, mas na capital havia dúvidas sobre a real posição dos opositores do ditador.
Os enfrentamentos nesta manhã ocorreram sobretudo perto do complexo residencial do ditador e no bairro de al-Mansoura, que foi visitado por Saif al-Islam, filho de Kadafi. No domingo, rebeldes anunciaram que Saif havia sido preso, mas ele reapareceu na noite de segunda-feira.
Segundo a rede de TV árabe al-Jazeera, nas ruas de Trípoli, o reaparecimento do filho do ditador também reforçava os questionamentos às informações divulgadas pelos rebeldes. A emissora também disse que as forças de Kadafi estariam usando armamento pesado para combater os opositores que lutam para assumir o controle total da cidade.
Mais cedo, a emissora Al Arabiya divulgou que explosões foram ouvidas perto do complexo. Imagens mostravam colunas de fumaça no local, onde Kadafi poderia estar escondido. Ao reaparecer, Saif revelou apenas que o ditador estava em segurança.
Otan diz que pode ter papel na Líbia pós-Kadafi
Horas depois de o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, afirmar que os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) vão terminar "assim que possível", a aliança informou nesta terça que as operações continuariam. O coronel Roland Lavoie, porta-voz da organização, disse que as tropas de Kadafi estão seriamente prejudicadas e perdendo força devido a deserções.
Lavoie acrescentou que a situação em Trípoli ainda era "muito séria e muito perigosa" e reafirmou que Kadafi não era considerado um alvo da Otan. Outra porta-voz da organização, Oana Lungescu, disse que a aliança pode ter um papel na Líbia pós-Kadafi.
Falta de segurança faz organização internacional adiar resgate de civis
A falta de segurança na capital líbia levou a Organização Internacional de Migração, ligada à ONU, a adiar o resgate de civis em Trípoli. Um navio que deixou Benghazi na segunda-feira e deveria aportar na capital líbia nesta terça ficará em alto mar até que a organização considere que sua aproximação é segura.
De manhã, o hotel onde se concentram os jornalistas estrangeiros também estaria ainda sob controle das forças de Kadafi. Segundo a rede BBC, correspondentes tiveram que se abrigar em um porão depois que o hotel foi atacado nesta terça.
O Aeroporto Internacional de Trípoli, que foi tomado por rebeldes na segunda, também foi alvo de ataques, segundo a CNN. Fortes explosões foram ouvidas na região e nuvens de fumaça podiam ser vistas.
Em Benghazi, considerada até agora a capital rebelde, o correspondente da al-Jazeera na cidade, Jacky Rowland, disse que havia muitas "acusações, dúvidas e confusão" entre os rebeldes.
Rebeldes anunciam avanços fora da capital
Fora da capital, os rebeldes dizem ter feito novos avanços. Depois de tomarem o porto petroleiro de Ras Lanuf, que vem sendo disputado desde o início da guerra civil, eles chegaram, segundo a al-Jazeera, aos arredores de Bin Jawad.
Segundo a TV Al Arabiya, rebeldes mataram dezenas de soldados de Kadafi em Sirta, cidade natal do ditador. O Pentágono informou na segunda-feira que um avião americano derrubou um míssil lançado da cidade.
Da Agência O Globo
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110823153708&assunto=18&onde=Mundo
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